O Natal da minha infância

Quantas saudades do meu tempo de criança!

Ao aproximar-se a época natalícia, tudo era euforia, aguardando com ansiedade, a chegada do dia do nascimento do menino Jesus. Quase sempre nos dias que antecediam o Natal, a neve aparecia e o seu manto branco, cobria tudo à nossa volta, proporcionando um espectáculo maravilhoso.

Eis que chegava o dia da consoada, em nossas casas era um frenesim na confecção das guloseimas próprias desta festa. Tudo era alegria, à espera da hora da ceia, não sem antes ir à taberna buscar dez tostões de confeitos para depois de cear se jogar o rapa, diversão costume em todos os lares.

Para o efeito alguém mais habilidoso fazia uma piocha de madeira, que era um pequeno pião com quatro faces, em que cada face tinha as seguintes iniciais, T. P.D. R. cujo o seu significado é TIRA, PÕE, DEIXA e RAPA.

Na ceia, propriamente dita, havia abundância do bacalhau, raia, couve, batata, rabanada e filhoses, também havia abundância do trigo de quatro cabeças para a açorda, tudo isto para aguçar o apetite de toda a família.

Mas a pinga começava a fazer efeito nos mais velhos, e o calor do cepo que ardia na lareira, traziam a sonolência e não muito tarde todos se recolhiam. As crianças tinham que dormir mais cedo, para que não presenciassem a chegada do menino Jesus com as prendas que haviam de ser colocadas no chinelo previamente colocado sobre a pilheira da lareira existente em todas as cozinhas. Nem sempre havia prendas e alegação de quem não as podia comprar, era de que nós tínhamos portado mal.

No dia seguinte de manhãzinha, toda a família com as suas roupas domingueiras participavam na missa festiva e no beijar do menino, enquanto lá no cestinho colocava-se uma moeda de um tostão para o Jesus.

Tudo era simplicidade sem presentes valiosos como se oferece nos dias de hoje, mas reinava em cada um, sorrisos de felicidade.

Ernesto Fernandes